-Lá vem ela! Grita um menino para sua mãe ao ver as densas nuvens que se aproximam. Negras e com um olhar sério, as nuvens são responsáveis pela maior alegria que o sertanejo pode ter. Sua presença representa a esperança de um povo de que tudo pode e será melhor. Quando ela chega, o verde toma conta da vegetação. Animais de todo tipo fazem sons para recebe-la e comemorar sua vinda. Sapos coaxam, cavalos relincham e os homens folgam e festejam.
A chuva representa o fechamento de um ciclo perfeito. A água rasga as nuvens e rompem seu interior caindo em direção ao solo. Em grande quantidade, a terra não consegue absorvê-la, o que acaba ocasionando porções de água que se juntam e formam lagos, lagoas e rios. O sol, por sua vez, irradiando energia e calor, faz a água evaporar, retornando as nuvens onde elas podem recomeçar esse ciclo novamente.
A vida é feita em ciclos. Anualmente esperamos um ciclo terminar para fazermos nossas promessas. “Próxima semana começo meu regime”; “Vou juntar dinheiro com o salário do próximo mês”; “próximo ano irei me esforçar mais”. Precisamos acreditar que, com o fim de um ciclo e o início de outro, sempre podemos ser melhores.
O fechamento de um ciclo e o início de outro nos traz esperança de que a vida pode ser melhor. Quando saímos de um emprego e conseguimos outro. Quando iniciamos uma nova faculdade. Quando encontramos um novo amor. O início de um ciclo sempre toma conta de nossa mente e, às vezes, acabamos nos esquecendo que todo ciclo acaba para começar um novo ciclo renovado como nossa esperança deve ser.
Há quem diga que a vida é pagar boleto e tentar emagrecer, mas a própria vida é um ciclo. Nascemos, crescemos, nos reproduzimos (a maioria das pessoas) e morremos. Não há nada que possamos fazer para inverter essa ordem ou não seguir essa sequência. A vida tem começo, meio e fim. Sabe aquela vontade que você tem de chegar em algum lugar a ponto de que você não consegue lembrar de mais nada durante o caminho? Não se pode viver a vida assim. A felicidade da vida não se encontra aonde você quer chegar, mas em desfrutar vagarosamente do caminho. O abraço dado hoje deve ser mais apertado; o beijo dado hoje tem que ser mais apaixonado; o sorriso dado hoje tem que ser mais radiante e o perdão dado hoje tem que ser mais sincero.
Assim como a chuva desce dos céus e para lá não tornam sem que primeiro reguem a terra e dê pão ao que come e fruto ao que semeia, assim também deve ser o nosso comprometimento com nossa humanidade. Temos que aproveitar cada sinapse de nosso cérebro que nos causa prazer e alegria. Temos que aproveitar cada terminação nervosa de nosso corpo que nos faz se arrepiar com o toque, com o abraço, com o beijo. Temos que aproveitar cada dose de endorfina que percorre nossa corrente sanguínea e nos deixa mais felizes e extasiados. Temos que viver cada dia sabendo que ele é especial e que ao final dele, um novo ciclo começa. O sol vai nascer, percorrer todo o céu, virá a noite com a lua e as estrelas e teremos mais vinte e quatro horas para buscarmos nossa felicidade.
Da próxima vez que a chuva chegar, não espere o sol bater na janela do seu quarto, aproveite a chuva, permita se molhar.
“Eu prefiro andar na chuva porque as pessoas não veem quando eu estou chorando”.
Charles Chaplin
Diogo Bernardino é servidor público e escreve eventualmente para o Diário de Quixadá.