CRÔNICA NOSSA DE CADA SEMANA: O menino e a chuva

Pedrinho corria descalço, os pés rachados levantando poeira do chão. Corria em direção à sua casa, gritando pela mãe, as roupas frouxas, os braços balançando ao lado do corpo miúdo, pequeno para os oito anos que tinha.

Mas o que o menino tinha de pequeno, seu coração tinha de grande, coração sonhador que queria ver chuva. A chuva das histórias que o pai contava, que sangravam açudes, anunciadas pelas formigas ou pelo joão-de-barro, que enchiam as cisternas, garantindo banho, comida e matando a sede. As mesmas chuvas que faziam o verde nascer na caatinga, e brotavam arroz, feijão e milho da terra.

Naquele dia, chegaram notícias de chuva de verdade em outras bandas de sertão. Até histórias de um riacho seco que timidamente voltava a correr. Do alto dos ombros do pai, Pedrinho ouvia o vaqueiro contando as histórias, pintando os detalhes…

Correu, foi pra casa contar, pronto para esperar a chuva, bem sentado do lado de fora, esperando quanto tivesse que esperar para ver a chuva chegar ali no seu cantinho, já pensando em todas as brincadeiras, todas as poças, toda a lama.

Tão logo chegou e encontrou a mãe na cozinha, preparando uma galinha ao pé do fogão, ouviu o barulho que vinha do chão do terreiro e batia no telhado. Pedrinho correu para ver.

Do lado de fora, o céu estava agora carregado de nuvens pesadas que deixavam seu coração mais leve. O menino sentou no chão, já meio enlameado, e fechou os olhos, sentindo a chuva que não dava sinais de querer parar.

As brincadeiras podiam esperar. Pedrinho sorria e sonhava, muito acordado, com o verde se estendendo ao redor do casebre, a esperança renascendo feito broto de feijão recém-molhado. Bem que ele havia andando observando o joão-de-barro. Chovia no sertão.

Maggie Paiva é jornalista, cronista, e escreve semanalmente para o Diário de Quixadá. 


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