Em jantar, opositores políticos do PT em Quixadá fazem brinde à tristeza de Lula pela morte do neto

O pequeno Arthur, de 7 anos, morreu ontem em decorrência de meningite meningogócica.

Há quem não consiga dar trégua em seu ódio por opositores políticos, nem mesmo durante dias de tragédia e de grande sofrimento.

Ontem, quando os jornais em todo o país começaram a noticiar o falecimento do pequeno Arthur, neto de apenas 7 anos do ex-presidente Lula, em decorrência de meningite meningogócica, inúmeras manifestações nas redes sociais foram feitas para comemorar a morte da criança. Esse tipo de ódio extremado, que abandona qualquer sentimento de humanidade, é dirigido a Lula, a quem alguns aprenderam a encarar como a encarnação do mal.

Felizmente, como o país não é habitado apenas por sociopatas e “opressores”, a reação contrária a estas manifestações de ódio também foram várias.

O DQ tomou conhecimento de que um grupo de pessoas em Quixadá, entre elas nomes famosos por sua crítica ao PT neste município, participaram de um jantar na noite desta sexta-feira, 01, e que um empresário fez um brinde, não à morte da criança, mas “ao sofrimento do bandido”, em referência a Lula. O indivíduo tentou celebrar a tristeza do ex-presidente. Houve quem levantasse o copo, mas houve também quem criticasse o gesto, que acabou sendo levado na brincadeira e virou motivo de riso.

É claro que nada justifica tal atitude desumana.

Lula realmente sofreu muito com a notícia da morte do neto, a quem era apegado. Arthur até já havia morado com ele por um tempo. Segundo a Folha de São Paulo, Lula “desabou em choro” ao receber a notícia da morte da criança e soluçava alto na carceragem.

Nesta manhã, Leonardo Sakamoto, jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, fez um comentário em sua coluna no portal Uol que merece reprodução aqui. Segue.

“Lula esteve com Fernando Henrique quando Ruth Cardoso morreu em junho de 2008. E Fernando Henrique esteve com Lula quando Marisa Letícia morreu em 2017. Ambos entenderam a dor e choraram no ombro um do outro, além dos ombros de aliados e de adversários – o que não deveria surpreender, pois são seres humanos. O que não é natural, nem humano, é imaginar que o mundo é um grande duelo do bem contra o mal e que todas as pessoas que não concordam conosco merecem sofrimento e morte.

“Durante a Primeira Guerra Mundial, militares britânicos, belgas, franceses e alemães, no front ocidental entre a França e a Bélgica, decidiram uma trégua no Natal de 1914. Soldados largaram suas baionetas, deixaram suas trincheiras e foram em direção ao inimigo, apertando suas mãos e desejando Feliz Natal. Trocaram presentes, comeram juntos, jogaram futebol. Depois, a guerra continuou. Mas naquela curta pausa puderam se lembrar que os inimigos eram gente como eles.

“Não liberar Lula seria uma forma de tortura institucional. Bem como na última ditadura, a tortura continua sendo uma arma de disputa ideológica. Quando é necessário “quebrar” a pessoa, mental e fisicamente, pelo que ela é, pelo que representa e pelo que defende, ela é utilizada. Pois não é apenas um ser humano que se dobra a cada golpe psicológico ou físico, mas também uma visão de mundo.

“Para muita gente, há quem seja a representação do mal. E o mal precisa ser extirpado. Na superfície dessa afirmação, há ódio. Mas se escavarmos um pouquinho, descobriremos que, na origem desse ódio, há muito medo do outro. Deve ser horrível viver com medo todos os dias.”


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