Como Quixadá está saindo na frente de outras cidades-pólo no combate ao coronavírus

Quixadá, no Sertão Central, em foto de Jândreson Gomes.

É um fato digno de observação: enquanto os municípios de Juazeiro do Norte, Barbalha, Crato, Brejo Santo e Iguatu continuam em isolamento rígido, por conta do substancial aumento no número de casos de Covid-19 e alta ocupação de leitos, levando seus sistemas de saúde à beira do colapso – com praticamente todo o comércio proibido de funcionar – Quixadá, no Sertão Central, que concentra características de cidade-pólo da região, vê seus números diminuírem e as internações baixarem sem precisar do mesmo isolamento de alto impacto.

Algumas decisões em Quixadá foram cruciais para que o município evitasse, até aqui, a necessidade de sacrifícios maiores.

O município foi rápido em adotar medidas de isolamento estratégicas nos meses anteriores. Aqui o combate ao coronavírus foi precedido pela decisão política de respeitar a autoridade da ciência e da medicina na condução da crise, não obstante as críticas de setores de oposição e a pressão dos interesses econômicos.

Foi assim que, ao observar que o foco central de irradiação de novas infecções era o centro da cidade, a prefeitura decidiu, enfrentando críticas diárias de rádios ligadas a pré-candidatos de oposição, promover a Zona Especial de Isolamento. O acesso ao centro foi dificultado, obstáculos de rua frearam o fluxo de trânsito e de pessoas, o comércio precisou enfrentar algumas semanas de restrições mais severas, porém, hoje experimenta uma realidade melhor do que a enfrentada nos municípios que se veem na contingência de impôr isolamento rígido, sem previsão de liberação.

Inteligente, também, foi a medida que qualificou a maneira de acompanhar a crise sanitária observando as características de fluxo da população da área urbana e rural. Impôr restrições ao fluxo de transportes coletivos da Zona Rural para a Sede freou o avanço do vírus nas localidades com o atendimento em saúde mais frágil e protegeu eficazmente as populações dos distritos de enfrentar uma explosão de casos.

Paralelamente, Quixadá trabalhou a questão da capacidade de acolhimento em leitos antes do seu pico de infecções. No início de maio, o município inaugurou uma Unidade Covid exclusiva para atendimentos de casos suspeitos e internação temporária de pacientes. Em menos de 30 dias, aumentou o número de leitos de enfermaria para 40, a mesma quantidade que o Governo do Estado ofereceu em seu hospital de campanha para toda a região. Por semanas seguidas, Quixadá recebeu, internou e cuidou como pôde de pacientes de vários municípios.

Medidas como a distribuição de milhares de kits com máscara, acompanhamento individual do quadro clínico de pacientes com diagnóstico confirmado, distribuição estratégica das equipes de saúde, estabelecimento de canais de comunicação direta com a população e decretos firmes, que complementaram os decretos estaduais para adaptá-los à realidade local, também serviram para evitar que Quixadá enfrentasse o mesmo colapso visto hoje em tantas cidades-pólo no Ceará.

Apesar deste cenário, não é possível dizer que Quixadá já venceu o vírus. A pandemia continua, as infecções não pararam de acontecer e, aliás, aumentaram levemente nesta semana. A necessidade de vigilância da população e firmeza da administração pública diante do pensamento bolsonarista e negacionista que guia parte da oposição política local, portanto, prosseguem.


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