Ministério da Saúde reúne médicos para falar sobre vantagens clínicas, éticas e econômicas dos tratamentos sem uso de sangue

O Departamento de Gestão Hospitalar (DGH) do Ministério da Saúde realizou no Rio de Janeiro um evento para apresentar aos hospitais federais a metodologia para a implementação de um programa de gerenciamento do sangue do paciente, cuja sigla, em inglês, é PBM (Patient Blood Management).

A necessidade de discutir esse tema foi motivada por uma sentença recentemente proferida pela Justiça Federal, ajuizada pelo Ministério Público Federal em face da União, que fixou prazo para que os hospitais federais no RJ façam a adequação dos seus protocolos para tratar os pacientes à luz do PBM no pré, intra e pós-operatório e que permitam aos pacientes expressar sua recusa terapêutica às transfusões de sangue nos formulários e documentos hospitalares.

Abordagem baseada em evidências científicas

O evento, presidido pela Coordenadora Geral de Assistência substituta, Dra. Rose Filgueiras,contou com a presença de representantes de diversos hospitais e teve como palestrantes autoridades no assunto, que explicaram que o PBM é uma abordagem baseada em evidências científicas visando gerenciar e preservar o próprio sangue do paciente, minimizar a perda sanguínea e a hemorragia, promover a segurança e a autonomia do paciente e reduzir a utilização de recursos e gastos com saúde.

A máquina cell saver evita o uso de sangue doado por outra pessoa, pois o equipamento retira o sangue que seria perdido e o recupera para ser reinfundido no paciente. Procedimento é considerado seguro e vantajoso para recuperação do paciente.

Palestraram o Dr. Axel Hofman, presidente da Direção Externa da Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Professora Dra. Isabel Céspedes, Coordenadora da Linha de Pesquisa em Opções Terapêuticas às Transfusões de Sangue da Escola Paulista de Medicina/UNIFESP. Os palestrantes explicaram as vantagens do PBM, como, por exemplo, (1)diminuição da mortalidade, morbidade e tempo de internação; (2) segurança por se evitar os riscos da contaminação e (3) eficácia pela utilização de técnicas com melhor custo-benefício. O Dr. Marcelo Fróes Assunção, coordenador da Fundação Hemominas, concedeu entrevista destacando os efeitos positivos da capacitação dos profissionais e hospitais nesse programa.

O Diretor do Hemorio, Dr. Luiz de Melo Amorim Filho, também participou do evento, destacando as vantagens do programa de gerenciamento de sangue do paciente e colocando o Hemorio à disposição dos hospitais para ajudar na implantação do programa de gerenciamento do sangue do paciente.

Nas considerações finais, o moderador, Dr. Carlos Panfilio, Professor Corresponsável do curso de capacitação em medicina transfusional do curso de graduação de Medicina da Escola Paulista de Medicina/UNIFESP, apresentou aos gestores presentes a possibilidade de promoverem a capacitação de suas equipes para o PBM por meio de um curso oferecido pela UNIFESP intitulado “Medicina Transfusional – uma visão atualizada”. E concluiu: “As evidências mostram que a anemia e a perda de sangue podem ser tratadas com medidas cientificamente comprovadas para melhor gerenciar e preservar o sangue do paciente, em vez de se recorrer ao sangue de um doador”.

Procedimentos com uso de sangue são cada vez mais vistos pela ciência médica como menos vantajosos para os pacientes se comparados com os tratamentos alternativos, mais seguros, econômicos e eficazes.

Conquista para a saúde pública e volta por cima

A implementação do PBM nos hospitais federais do Rio de Janeiro e, posteriormente, em todo o país, será uma conquista para a saúde pública brasileira, visto que está em harmonia com a diretriz mundial da Organização Mundial de Saúde que recomenda a sua implementação em razão das suas vantagens clínicas, éticas e econômicas. Representa, também, uma volta por cima dada pela organização religiosa Testemunhas de Jeová que, em razão da desinformação sobre o tema amplamente difundida na sociedade, ainda enfrenta preconceito por evitar procedimentos com uso de sangue, embora sua postura seja vista pela ciência médica, cada vez mais, como aquela que pode ser adotada por todos como a mais adequada.

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— Edição: Gooldemberg Saraiva, a partir de informações publicadas pelo Estadão Conteúdo.
— Imagens: Getty Images/ uso autorizado. 

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