Meus caros leitores dominicais,
Essa semana que passou ministrei uma palestra sobre autocuidado, imagem e comunicação para funcionários de uma construtora aqui da capital. Enquanto preparava a minha fala sobre autocuidado social, fiquei refletindo sobre a palavra limite.
Eu amo semântica porque ela me ajuda no aprofundamento da ideia que a palavra nos traz. Limite significa, em linhas gerais, separação ou delimitação de territórios.
Quando falamos em autocuidado social, referimo-nos principalmente às nossas relações interpessoais, conjugadas no mundo ao nosso redor. Somos seres com ânsia de viver em comunidade.
Nesse sentido, esta convivência vai sendo estabelecida através dos limites que vamos ou não concebendo nas relações que travamos.
É dessa forma, também, que damos ao outro a cartilha de como deve ser a nossa interação e até onde ele pode ou não ir conosco.
E, aqui, chegamos ao ponto do nosso diálogo: as pessoas nos tratarão da forma que permitirmos. Essa permissão é dada silenciosamente, quando, por medo de limitar, deixamos que os outros opinem em assuntos que são essencialmente nossos, sem que tenhamos solicitado intromissões, como, por exemplo, corpo, casa, filhos, crença, escolha da profissão, roupa, gostos pessoais, sexualidade etc.
É claro que cortar um limite que foi usurpado, ou estabelecê-lo, causa pequenos conflitos e reações de impacto. Não entendo bem o porquê das pessoas se sentirem aptas a detalharem seus achismos sobre nós, para nós, de forma particularizada. Muitas vezes até impondo-nos suas observações. Tragicamente, também corremos o risco de estarmos fazendo isso com os outros.
Como proceder? De duas formas. Se a pessoa não compartilhou conosco, não é da nossa conta, o silêncio é rei. Se houve compartilhamento, e se existe um diálogo, perguntar se pode opinar. Limites estabelecidos e acolhidos fortificam as relações, tanto as nossas com os outros, quanto as nossas conosco.
Delimitar o espaço do outro na nossa vida significa uma enorme tarefa de autoconhecimento e sociabilidades necessárias para o nosso bem estar social.
Bom domingo,
Kercya Nara
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Sobre a autora: Kercya Nara é formada em Letras, Especialista em Literatura e formação do Leitor. É Mestra em Literatura e Interculturalidade. Pesquisa sobre Representação Feminina na história, nas artes e na sociedade desde 2004. Atua como professora universitária nas Áreas de Literatura, Letramento, Comunicação, Pesquisa e Produção Científica. Escreve para o DQ todos os domingos, discutindo assuntos como autocuidado físico, social, mental e profissional.