Mulheres que traem recebem julgamento mais rigoroso da sociedade

Essa semana estourou na mídia o caso de traição do jogador Neymar.

Não foi nenhuma surpresa, pelo menos para mim, ver o apoio dado pela sociedade ao jogador nas redes sociais, inclusive enaltecendo o seu gesto de pedido de perdão.

Mas se por acaso a traição tivesse sido cometida pela namorada de Neymar e não por ele, haveriam reações de apoio a ela?

Para além das questões e os acordos íntimos vividos em um relacionamento que só diz respeito ao casal, seja sobre perdão, separação, crises, reconciliação, ou tipo de relacionamento: aberto ou monogâmico, é preciso refletir sobre a disparidade de tratamentos dados a homens e a mulheres.

Esse caso do Neymar trouxe a tona a extrema desigualdade no que diz respeito a normalização da traição masculina, frente a feminina. Podemos citar Luiza Sonza como exemplo, já que a mesma foi perseguida, sofreu linchamento nas redes sociais e foi inclusive ameaçada de morte por uma pseudo traição, nunca confirmada.

Uma das principais razões para a diferença de tratamento entre as traições masculinas e femininas reside nas normas de gênero e nas expectativas sociais arraigadas em nossa cultura. Ao longo da história, as mulheres foram reprimidas e controladas em sua sexualidade, sendo esperado que fossem monogâmicas e fiéis aos seus parceiros. Por outro lado, os homens foram encorajados a explorar sua sexualidade e, assim, a infidelidade masculina foi muitas vezes vista como mais aceitável e estimulada.

Historicamente, as mulheres foram vistas como guardiãs da moralidade sexual e a infidelidade feminina foi considerada uma ameaça ao sistema patriarcal. Essa visão sexista ainda persiste na sociedade, resultando em um julgamento mais rigoroso das mulheres que traem.

Por outro lado, a traição masculina é frequentemente romantizada e vista como um símbolo de masculinidade.

Relacionamentos afetivos e sexuais são complexos e multifacetados, mas é inegável que quando uma mulher trai em um relacionamento, ela enfrenta estigmatização, julgamento social e, em alguns casos, violência. É essencial abordar essas questões dentro de um quadro que busca desafiar os estereótipos de gênero.

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Sobre a autora: Kercya Nara é formada em Letras, Especialista em Literatura e formação do Leitor. É Mestra em Literatura e Interculturalidade. Pesquisa sobre Representação Feminina na história, nas artes e na sociedade desde 2004. Atua como professora universitária nas Áreas de Literatura, Letramento, Comunicação, Pesquisa e Produção Científica. Escreve para o DQ todos os domingos, discutindo assuntos como autocuidado físico, social, mental e profissional. 

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