Depois que os cubanos deixaram o programa Mais Médicos, 443 vagas foram abertas no Ceará. O governo Bolsonaro tinha a expectativa de que profissionais brasileiros se disporiam a substituí-los nestas vagas. Ocorre, porém, que tem sido grande a dificuldade para realizar estas substituições. Com isto, milhares de famílias ainda estão sem cobertura médica, principalmente no interior do estado. Em alguns casos, as prefeituras tem feito esforço monumental para garantir, com recursos próprios, que os cidadãos dos seus municípios não fiquem sem médicos.
No Brasil, nos últimos 3 meses, 1.052 médicos brasileiros selecionados para o Mais Médicos desistiram de seus cargos. O número equivale a 15% das vagas disponibilizadas pelo governo federal. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Em contato com o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (COSEMS), na manhã desta sexta-feira, 05, o DQ obteve a informação de que pouco mais de 30% do número de vagas que foram abertas com a saída dos cubanos no Ceará já foram preenchidas. Isto significa que dezenas de milhares de pessoas estão sem o atendimento médico de que dispunham antes das dificuldades diplomáticas entre Brasil e Cuba.
No Sertão Central, a situação é grave.
O município de Choró, por exemplo, atuava com seis equipes de Saúde da Família. “Após a política de contenção do governo federal, o município perdeu três profissionais do programa”, explica, em nota enviada ao DQ, a secretária de saúde Jamille Paz. Referindo-se ainda a essa política de contenção do governo Bolsonaro, ela lamenta: “Complica a situação do município, pois até hoje enfrentamos dificuldades para preencher as vagas.” A prefeitura de Choró está tentando resolver o problema, mas sem recursos financeiros adequados e sem a reposição garantida pelo Ministério da Saúde, parte da população fica sem a cobertura e proteção em saúde que tinha antes.
Para o Secretário de Saúde de Quixeramobim, Antônio Eugênio Gomes de Almeida, a saída dos médicos do programa Mais Médicos representou “grande prejuízo para o município”. Em contato com o DQ, ele afirmou que Quixeramobim contava com três médicos cubanos. Todos foram embora após as dificuldades do novo governo brasileiro com Cuba. A prefeitura conseguiu repor dois profissionais dentro do programa Mais Médicos, porém, teve que desembolsar recursos próprios para contratar um terceiro profissional. Além de enfrentar dificuldade para manter esse número de médicos, o município precisa ampliar o número de equipes.
Em Banabuiú, situação parecida. O município tinha quatro médicos no programa Mais Médicos. Depois dos problemas entre Cuba e o governo Bolsonaro, dois deles foram embora. Até agora não aconteceu a reposição assegurada pelo Ministério da Saúde. Para Banabuiú, a abertura do edital que resultaria no preenchimento dessas vagas teve, na verdade, feito inverso. Dois médicos que o município tinha participaram da seleção e foram embora também. O município, portanto, perdeu quatro médicos. De acordo com avaliação fornecida pela prefeitura ao DQ, Banabuiú precisa hoje de seis médicos para suprir sua demanda.
Em Quixadá, principal cidade desta região, apesar da saída de profissionais de Cuba, a prefeitura conseguiu manter funcionando o número de equipes de saúde da família e até mesmo ampliou o serviço. Mas a desarticulação do programa Mais Médicos, promovida pelo Governo Federal, também gera prejuízo aos quixadaenses, já que recursos que poderiam ser despendidos em outras frentes acabam usados para garantir que os atendimentos das equipes de saúde da família não cessem.
O programa de saúde da família é fundamental como fator de prevenção de doenças e atua também no combate ao seu aprofundamento. Desgastar o programa, como o governo federal fez, a exemplo do que tem acontecido em várias prefeituras do Sertão Central, leva não apenas prejuízo aos cofres dos municípios, mas também coloca as suas populações em sério risco.