PARTE 1: Empresário confessa ao MP-CE propina de R$ 100 mil à campanha de João da Sapataria em 2012

João Hudson, o João da Sapataria, ao lado de apoiadores políticos na campanha de 2012 pela prefeitura de Quixadá.

Sete anos depois da campanha eleitoral que levou João Hudson, ou João da Sapataria, à prefeitura de Quixadá, em 2012, fatos graves estão aparecendo.

O delator Igor Cristino Azevedo Cavalcante, ex-sócio da Construtora São Januário.

O empresário Igor Cristino Azevedo Cavalcante, ex-sócio da Construtora São Januário LTDA-ME, responsável pela coleta e destinação do lixo em Quixadá nos anos de 2013 a 2016, procurou, no último dia 23 de novembro, a Delegacia de Polícia Civil deste município para contar detalhes de um grande esquema de corrupção que, segundo ele, se manteve ativo durante todo o mandato do ex-prefeito João da Sapataria, com envolvimento de assessores e secretários daquela administração.

Três dias depois, em 26 de novembro, o empresário buscou também o Ministério Público do Estado do Ceará para confirmar as declarações que havia prestado na delegacia.

Indagado na promotoria sobre quem ele era dentro deste esquema, Igor confessou sem dificuldades: “Sou um dos membros da organização criminosa.” Ele aponta nomes, datas, valores envolvidos e compromete várias figuras que tiveram destaque no governo quixadaense nos anos de 2013 a 2016.

As informações dadas por ele às autoridades são novas e podem levar à prestação de contas com a justiça por atos que, aparentemente, já estavam perdidos no tempo. 

Os fatos narrados aqui, portanto, já são conhecidos das autoridades policiais e dos promotores de justiça.

Boletim de Ocorrência registrado por Igor Cristino na Delegacia de Polícia Civil.
Igor Cristino confirmou ao Ministério Público do Ceará as informações que havia dado na delegacia.

Propina na campanha

O empresário Paulo José de Sousa Almeida, sócio da Construtora São Januário.

Uma das afirmações do empresário delator diz respeito ao financiamento ilegal da campanha eleitoral do então candidato João da Sapataria (PRB). Segundo as declarações prestadas por ele na delegacia, o empresário Paulo José de Sousa Almeida, outro sócio da Construtora São Januário, efetuou o pagamento de R$ 100 mil à campanha eleitoral de João Hudson. O valor, referente à primeira parcela de uma propina inicial total de R$ 200 mil, não foi declarado à justiça.

O objetivo da ajuda que, segundo o delator, foi negociado diretamente com o então candidato João da Sapataria, era que a Construtora São Januário vencesse a licitação do lixo da cidade. Quando a vitória sobre Ilário Marques se confirmou, o compromisso criminoso estabelecido com a campanha do vencedor passou a vigorar.

De fato, a Construtora São Januário ganhou a licitação do lixo em Quixadá no ano seguinte, já com o novo prefeito no comando do executivo. Como parte do acordo, o novo gestor teria recebido mais R$ 100 mil após a confirmação da empresa como vencedora da licitação.

Ainda segundo o empresário delator, para vencer a licitação o sócio Paulo José de Sousa Almeida investiu R$ 200 mil para falsificar a documentação requerida no processo licitatório. Os documento falsos incluem declarações de que a Construtora São Januário teria atuado em municípios onde, na verdade, nunca teria prestado serviços, e outros papéis de diferentes tipos, conforme aponta o delator. Tudo foi entregue por ele às autoridades. 

Ensinando a fraudar licitação

Igor Cristino afirma que, antes de vencer a licitação, a empresa recebeu orientações da pregoeira que trabalhava na gestão João da Sapataria, que ele identifica como “Nega Lima”, sobre como proceder para finalizar com êxito a fraude. O delator cedeu à polícia e ao Ministério Público o acesso aos emails que teria trocado com a pregoeira e que registram essa comunicação entre as partes no esquema criminoso.

Reuniões para combinar a fraude, ainda segundo o delator informou, teriam sido realizadas na casa de um contador chamado Marcos, irmão do então prefeito João Hudson, que conhecia o esquema. Todas estas informações foram dadas pelo delator à polícia e ao Ministério Público.

Longe de apenas oferecer declarações vazias, o delator entregou às autoridades fortes elementos de prova daquilo que disse, incluindo não apenas sua própria confissão, mas também documentos e até vídeos em que os apontados como corruptos e corruptores aparecem contando grandes somas de dinheiro em meio a gargalhadas. 


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