Menina de dez anos entrou em hospital em porta-mala de carro enquanto médico distraía religiosos

Menina de dez anos entrou em hospital em porta-mala de carro enquanto médico distraía religiosos.

A menina capixaba de dez anos vítima de seguidos estupros não precisou só viajar a outro estado para fazer valer o seu direito a um aborto. Ela também teve que se esconder no porta-malas de um carro para entrar no hospital no Recife (PE) enquanto o médico e diretor da unidade, Olimpio Moraes, atraía para o portão principal os fanáticos religiosos e políticos que se dividiam e bloqueavam todas as entradas para impedir a garota de realizar o procedimento.

A perseguição veio desde o aeroporto, onde anotaram a placa do veículo, conta Olimpio, o obstetra pernambucano que desde 1996 faz abortos pelo SUS e dirige o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), o primeiro a realizar abortos legais no Norte-Nordeste. São cerca de 50 desses procedimentos por ano, entre 30 e 40 relacionados a estupros.

“Esse era um caso diferente. Quando eu soube do vazamento dos dados, fui pro hospital e quando cheguei estava aquela confusão. Ficamos com medo de ela não conseguir entrar. Criamos uma distração para tirar a atenção e o carro passar escondido. Ninguém viu”, conta o médico, que ouviu gritos de “assassino”, “aborteiro”, “demônio”, “por que o senhor não mata seus filhos?”.

Quem divulgou o nome da menina e qual unidade faria o procedimento foi a extremista bolsonarista Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, que pode ser investigada por violações à Constituição Federal, ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e ao Código Penal, assim como o funcionário público que vazou a informação.


Compartilha:

Veja Mais