Brasil não vai emprestar dinheiro à Venezuela, mas vai recalcular dívidas vencidas

Lula e Nicolás Maduro se encontram em, Brasília na segunda-feira, 29.

Após a chegada do ditador venezuelano Nicolás Maduro ao Brasil na última segunda-feira, 29, militantes de extrema-direita começaram a disseminar nas redes sociais a informação de que o país vizinho receberia novamente um empréstimo financeiro do Brasil. Contudo, essa informação não procede.

Na realidade, o Brasil planeja recalcular e realizar correções na dívida já existente da Venezuela, além de reprogramar os pagamentos. Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), afirmou em entrevista ao UOL que o Brasil não tem planos de conceder empréstimos à Venezuela e considera esse assunto como “ideológico”.

Mercadante declarou: “É possível renegociar uma dívida, mas você não concede financiamento a quem está inadimplente. O BNDES nunca destinou mais do que 1,3% de seus desembolsos para financiar serviços no exterior. Isso nunca foi relevante. Parece que é o centro do BNDES, mas é um problema completamente marginal diante dos volumes de empréstimos que o BNDES realiza.”

De acordo com o presidente do banco, a Venezuela possui uma dívida vencida com o Brasil no valor de US$ 900 milhões, além de uma dívida a vencer de US$ 172 milhões. É importante ressaltar que esses valores são devidos à União, conforme destacou Mercadante.

  • Distanciamento gerou prejuízos

O distanciamento nas relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela prejudicou financeiramente ambas as nações, segundo um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O levantamento mostra que o comércio bilateral entre os países caiu de um patamar superior a US$ 5 bilhões anuais para menos de US$ 1 bilhão nos últimos cinco anos, entre 2016 e 2020. Os dados de 2021 ainda não foram fechados.

“Antes da crise na Venezuela, a relação entre os países gerava um fluxo anual de US$ 6 bilhões ao Brasil. Mas com toda essa situação e crise que o país tem vivido faz com que os superávits brasileiros caíssem mais de 80% desde 2017”, disse o autor do estudo, Pedro Silva Barros.

O estudo aponta que a suspensão da Venezuela do Mercosul, e o distanciamento do país com o Brasil, gerou impactos negativos na balança comercial brasileira, com perdas nos fluxos de exportações, que eram puxadas por produtos básicos como açúcar, manteiga e cereais.

Além da redução nas exportações, a pesquisa aponta um aumento na dívida da Venezuela com o Brasil, que soma atualmente U$ 900 milhões. Segundo o levantamento, o valor pode ser duplicado nos próximos anos se a Venezuela seguir sem honrar os pagamentos. O Ipea aponta que os valores deixaram de ser pagos, após o governo federal se opor ao presidente atual do país, Nicolás Maduro.

Por fim, Pedro Silva Barros explica quais são as medidas possíveis a serem tomadas pelo Brasil para poder reverter o cenário econômico favorável entre os países.

“A desintegração comercial e a fragmentação política têm marcado a América do Sul nas últimas décadas. O Brasil precisa estar atento a esse processo e pode liderar uma agenda de reconstrução da integração regional com forte impacto positivo para o seu processo de desenvolvimento”, finalizou.

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