Mandetta diz que uso da cloroquina em casos leves pode provocar mortes em casa

Ex-ministro da saúde, Luis Henrique Mandetta.

A exigência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pela ampliação do uso de cloroquina para pacientes com quadro leve do novo coronavírus pode elevar a pressão por vagas em centros de terapia intensiva e provocar mortes em casa por arritmia, afirma o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.

Na semana passada, durante live com comerciantes, o médico bolsonarista Ricardo Silveira também defendeu o uso de cloroquina.

Médico de Quixadá, Ricardo Silveira, apoiador político de Bolsonaro, defende uso de cloroquina em pacientes com covid-19.

Em entrevista à Folha de São Paulo, publicada nesta segunda-feira, 18, Mandetta afirma que resultados iniciais de estudos que recebeu ainda no governo já indicavam riscos no uso do medicamento.

“Começaram a testar pelos [quadros] graves que estão nos hospitais. Do que sei dos estudos que me informaram e não concluíram, 33% dos pacientes em hospital, monitorados com eletrocardiograma contínuo, tiveram que suspender o uso da cloroquina porque deu arritmia que poderia levar a parada [cardíaca].”

Ele diz ver na pressão de Bolsonaro pela cloroquina uma tentativa de estimular o retorno das pessoas ao trabalho. O ex-ministro afirma que, se isso tivesse “lógica de assistência”, seria defendido por especialistas e não pelo presidente. Para Mandetta, contudo, o país atravessou até o momento apenas 1/3 da crise e deverá ter pelo menos mais 12 semanas “duras” adiante.

Mandetta também afirma que “nada do que está acontecendo [números de casos e mortes] hoje é surpresa para o governo federal”. E diz que era difícil estar à frente do ministério e ter o presidente indo contra as medidas recomendadas. “Entre os ministros, tentávamos arrumar a situação. Mas passava 1 dia, 3 dias, e novamente tínhamos uma situação contraditória [do presidente], seja de aglomeração ou ida a estabelecimentos comerciais”.


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