Pré-candidato em Quixadá, Ricardo Silveira defende afrouxamento de regras de isolamento e uso de cloroquina em pacientes

Pré-candidato em Quixadá, Ricardo Silveira defende afrouxamento de isolamento e uso de cloroquina em pacientes.

O médico bolsonarista Ricardo Silveira, que se apresenta como pré-candidato à prefeitura de Quixadá, defendeu, nesta semana, o afrouxamento das restrições ao isolamento social no município. Ele também se juntou ao presidente Jair Bolsonaro em recomendar o uso de cloroquina em pacientes com sintomas iniciais de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

Numa live com comerciantes, Ricardo Silveira disse que tem observado que o uso da cloroquina “fora de Quixadá, fora do Ceará e fora do Brasil”, tem impedido que pacientes avancem para estágios mais graves da doença. Segundo ele, a cloroquina impede que o vírus se replique nas membranas da célula. Mas o político não revelou em qual estudo baseia sua opinião e nem disse qual país do mundo tem adotado como padrão esse procedimento.

O que se tem de notícia mais recente, porém, é que a hidroxicloroquina não parece ser eficaz em pacientes graves de COVID-19 e mesmo nos quadros leves, de acordo com dois estudos que serão publicados nesta sexta-feira (15).

O primeiro deles, de pesquisadores franceses, conclui que o derivado da cloroquina, útil no tratamento da malária, não reduz significativamente a probabilidade de um infectado precisar de tratamento intensivo ou de óbito em pacientes hospitalizados com a pneumonia decorrente da infecção.

Para o segundo estudo, de uma equipe chinesa, a hidroxicloroquina não elimina o vírus mais rapidamente do que os tratamentos padrões em pacientes com uma forma “leve” ou “moderada” da doença. Além disso, os efeitos colaterais são mais importantes.

“Tomados em conjunto, esses resultados não apoiam o uso da hidroxicloroquina como tratamento de rotina para pacientes com COVID-19”, afirmou em um comunicado a revista médica britânica BMJ, que publica os dois estudos.

Já a Organização Mundial de Saúde (OMS), também tem posicionamento diferente. Michael Ryan, diretor de operações da OMS (Organização mundial da Saúde), afirma que não existem ainda “evidências empíricas” de que a cloroquina funcione para lidar com o covid-19.

Ricardo Silveira também recomendou o uso de videoconferência com pacientes em Quixadá. Mas isso já tem sido  feito.

Isolamento social

Sobre o isolamento social, Ricardo Silveira adotou tom semelhante ao de Bolsonaro. “Eu também sou favorável ao isolamento, mas temos que pensar também em outro foco, o foco da economia”, disse. Em outro ponto da live, o médico chega a dizer, como recado ao prefeito Ilário Marques, que “não há necessidade de ser tão rigoroso”.

Ao recomendar a formação de um comitê para dialogar com a prefeitura, Ricardo Silveira foi surpreendido pelo presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Sergio Almeida, que informou que o diálogo com a prefeitura já existe e, embora as medidas de restrição estejam sendo duras, elas existem em virtude do cenário epidemiológico extremamente grave.

Na conversa foi muito comentado a respeito do delivery como método de vendas no comércio. Os decretos de Quixadá não proíbem o delivery na cidade. Em toda a cidade, exceto na Zona especial no centro, eles podem funcionar normalmente, em todos os dias. Na Zona Especial, porém, o funcionamento de deliverys de alimentação está restrito ao horário posterior às 16 horas e, segundo Sergio Almeida, há um diálogo da CDL com a prefeitura para flexibilizar isso após 20 de maio.

Após uma das participantes afirmar que ‘não existe essa de serviço essencial e serviço não essencial’, Ricardo Silveira disse: “Seu sentimento é o de todos nós.” Esse conceito radical, no entanto, não está de acordo com a legislação brasileira, que define os seguintes serviços e atividades como essenciais: (i) tratamento e abastecimento de água, produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; (ii) assistência médica e hospitalar; (iii) distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; (iv) funerários; (v) transporte coletivo; (vi) captação e tratamento de esgoto e lixo; (vii) telecomunicações; (viii) guarda, e uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; (ix) processamento de dados ligados a serviços essenciais; (x) controle de tráfego aéreo; e (xi) compensação bancária.

Até esta sexta-feira, 15, Quixadá registra 5 óbitos, 157 casos confirmados, e internações na unidade covid local, no Hospital Regional em Quixeramobim, e em hospitais de Fortaleza. Para os que lutam em leitos de UTI para conseguir respirar e viver, o debate sobre a diminuição da margem de lucro de comerciantes parece irrelevante.


Compartilha:

Veja Mais