Ter dias de baixa estima é normal, ficar nela pra sempre é que não é

Nessa semana, enquanto conversava com uma colega, eu falei que não estava muito bem com o espelho. Saí da dieta, passei alguns dias sem treinar por causa de uma gripe e estava me sentido inchada por causa da retenção líquida. Ela soltou um “mas você não é a moça da autoestima inabalável”.

Senti a ironia. Porém, já sou acostumada à contestação por ter escolhido estar mais bem do que mal comigo mesma. Ameaças à autoestima incomodam e, em pessoas fora do padrão, incomodam mais ainda. Porque é como se fosse uma espécie de super poder, que algumas pessoas ainda não entendem, ou não conseguiram alcançar.

É incrível como as pessoas se agarram a uma ideia de comportamento estático e têm dificuldades em entender que todo processo não é linear. Mulheres são cíclicas, os hormônios se alteram nos diversos períodos e ainda temos impacto do meio, as questões emocionais e físicas interagindo.

Mesmo para quem escolheu o caminho da autoaceitação e se blindou contra a ditadura do padrão, esses momentos de insegurança com o próprio corpo são desafiadores, porque aparecem junto com ele o desânimo, a ansiedade, as crenças limitantes, a insegurança, as dúvidas quanto à própria capacidade, a negação de si mesma e o questionamento “se eu me gosto tanto, porque estou assim?”.

Eu aprendi ao longo da minha caminhada de autoacolhimento que ter dias de baixa estima é normal, ficar nela pra sempre é que não é. Então, passei a fazer alguns passos racionais para me tirar desses pequenos “buracos” em que, vez ou outra, acabo caindo.

O primeiro é o respeito aos meus limites: se não estou sociável, se não quero aparecer ou interagir, eu me resguardo, tanto pessoalmente, quanto nas redes sociais. O segundo é a compreensão dos gatilhos: o que de fato gerou o meu incomodo e porquê. O terceiro é a reverência à minha história: é lembrar de todas as batalhas que travei contra a insegurança corporal e ganhei. O quarto é fazer por mim aquilo que ninguém mais pode: cuidar das emoções na terapia, ajustar a alimentação, ingestão de agua, sono, retornar aos treinos, reconstruir o meu inegociável.

Parece fácil ou rápido falando assim, mas esses passos também são processos e, embora a demanda seja emocional, não são as emoções que me ajudam. É a racionalidade e a certeza de que é normal o termômetro da autoestima vez ou outra baixar, mas é o amor próprio que nos faz voltar para nós mesmas.

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Sobre a autora: Kercya Nara é formada em Letras, Especialista em Literatura e formação do Leitor. É Mestra em Literatura e Interculturalidade. Pesquisa sobre Representação Feminina na história, nas artes e na sociedade desde 2004. Atua como professora universitária nas Áreas de Literatura, Letramento, Comunicação, Pesquisa e Produção Científica. Escreve para o DQ todos os domingos, discutindo assuntos como autocuidado físico, social, mental e profissional. 

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