Como nós mulheres nos tornamos algozes de outras mulheres

Nessa semana, mais uma digital influencer e modelo morreu depois de injetar silicone industrial nas nádegas.

Sempre que isso acontece eu penso em três coisas: 1. Qual será a próxima 2. Que grande sofrimento para meninas lindas, com corpos inclusive dentro do padrão, se submeterem a tantas violências estéticas para atingir um ideal inatingível. 3. Quando foi que banalizamos a morte e a dor pela beleza?

No final, somos todos culpados pela morte dessa moça: quando, nos salões de beleza, falamos de quem engordou e emagreceu, quando não concebemos o envelhecimento, quando aceitamos que exista um padrão de beleza, que é inatingível, quando usamos o discurso da preocupação com a saúde para validarmos nossa gordofobia e preconceito.

Sinto imensamente que a exigência sempre exagerada para que nós, mulheres, estejamos dentro dos paramentos do ideal corporal, sejamos nós, mães, senhoras, meninas, é uma forma de nos amarrarem em uma insegurança fajuta alimentada principalmente por outras mulheres.

Isso faz com que, em vez de defendermos umas as outras e estarmos unidas, nos coloquemos em posição de rivalidade e comparação.

O resultado disso é que, sendo mulheres, nos tornamos algozes de outras mulheres. Inimigas, jamais conquistaremos equidades social e de gênero.

É meio hipócrita como julgamos uma moça que colocou silicone industrial e morreu, enquanto, também, criticamos mulheres com corpos reais e fora do padrão.

Absurdamente precisamos evoluir como pessoas, para que nossas meninas não tenham fins parecidos.

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Sobre a autora: Kercya Nara é formada em Letras, Especialista em Literatura e formação do Leitor. É Mestra em Literatura e Interculturalidade. Pesquisa sobre Representação Feminina na história, nas artes e na sociedade desde 2004. Atua como professora universitária nas Áreas de Literatura, Letramento, Comunicação, Pesquisa e Produção Científica. Escreve para o DQ todos os domingos, discutindo assuntos como autocuidado físico, social, mental e profissional.

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