A autoestima em pessoas fora do padrão incomoda

Meus caros leitores dominicais,

Esses dias fiquei refletindo uma questão que me surgiu, depois de observar alguns comentários nas redes sociais.

Como a autoestima em pessoas fora do padrão incomoda. E, aqui, precisamos, talvez, conceituar em linhas gerais o que é “fora do padrão”.

Existe um padrão estético-corporal temporário que estipula como as pessoas devem ser. Esse padrão é estabelecido pela sociedade vigente, mediante o controle de vários setores, que vão desde a indústria cosmética e farmacêutica de produtos de beleza, à indústria da moda, medicina estética e através das estruturações sociais de poder. Esse padrão estético muda a depender da época histórica, região ou país.

No que tange ao Brasil, estar fora do padrão estético não é lugar apenas de pessoas gordas e, sim, de todas as pessoas que não se encaixam dentro do que essa indústria da beleza determina. Nesse sentido, pessoas baixas ou altas demais, negras, com deficiência, flácidas, que deixam os cabelos brancos, que não se depilam, que se assumem idosas, por exemplo, são consideradas fora do padrão.

Para cada uma dessas pessoas, existe um preconceito determinado e, automaticamente, um discurso de desvalorização. Quando se refere a mulheres, isso tem mais profundidade. No que tange às pessoas gordas, mesmo sem lhes serem conhecidos o histórico de saúde e de rotina, o preconceito utilizará o discurso genérico de saúde. Muitas vezes esboçado por quem não está com o check-up médico em dia e, pasmem, também não está no padrão.

O padrão estético está no plano das ideias, é algo inatingível. Tão inatingível que, mesmo pessoas que são consideradas “padrão”, continuam fazendo procedimentos para alcançar “o padrão”. Parece confuso e, se pensarmos mais um pouco, concluiremos que realmente não há lógica alguma.

Nessa perspectiva, para essa sociedade e para quem é alimentado por esses ditames, alguém fora do padrão exercer o direito de se amar, é motivo de crítica. Aliás, falar expressões como amor próprio, autoestima e autoaceitação, já causa reboliços e distorções nas mentes escravizadas.

_______

Sobre a autora: Kercya Nara é formada em Letras, Especialista em Literatura e formação do Leitor. É Mestra em Literatura e Interculturalidade. Pesquisa sobre Representação Feminina na história, nas artes e na sociedade desde 2004. Atua como professora universitária nas Áreas de Literatura, Letramento, Comunicação, Pesquisa e Produção Científica. Escreve para o DQ todos os domingos, discutindo assuntos como autocuidado físico, social, mental e profissional. 

Compartilha:

Veja Mais