Vírus “zumbis”: Como organismos congelados há milhares de anos podem oferecer riscos

Um ambiente com temperaturas extremamente baixas, livre de oxigênio e da presença da luz é o ideal para preservar restos mumificados de animais extintos e vírus remotos.

O aquecimento global, provocado pelas mudanças climáticas, vem acelerando o processo de derretimento de geleiras e acende um alerta na comunidade científica: o que acontece se esses organismos forem descongelados e reinseridos no ciclo terrestre?

“Do ponto de vista teórico, nada impede que isso ocorra, desde que de fato esses vírus estejam em estado de conservação adequado pelas baixas temperaturas”, explica o virologista Fernando Spilki.

Entender os riscos desses vírus “zumbis” é um dos focos da pesquisa do professor emérito de medicina e genômica na Escola de Medicina da Universidade Aix-Marseille em Marselha, na França, Jean-Michel Claverie.

Em 2003, Claverie descobriu um tipo específico de vírus, conhecido como “vírus gigantes”, que poderia ser o modelo ideal para investigar a capacidade desses organismos manterem alguma de suas partículas virais preservadas no tempo.

Os trabalhos do especialista se concentram no permafrost — uma superfície que permanece a 0°C ou abaixo durante pelo menos dois anos consecutivos, segundo definição da Associação Internacional do Permafrost (IPA).

“Ali a gente pode ter vírus e outros patógenos com os quais nós, no curso recente da história, não tivemos contato”, explica Spilki.

De acordo com o virologista, é possível que a região abrigue tanto vírus da própria espécie humana para os quais ainda não temos conhecimento ou imunidade, “porque podem ter ocorrido em grupamentos humanos muito isolados”, quanto organismos de outras espécies que, eventualmente, poderiam infectar humanos.

Apesar de até o momento não haver comprovação de que esse processo de descongelamento e retomada do potencial infeccioso desses vírus já tenha ocorrido naturalmente, Spilki considera essa uma possibilidade real.

“O degelo do permafrost continuará acelerando e mais pessoas povoarão o Ártico na sequência de empreendimentos industriais”, comenta.

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