![](\"https:\/\/www.diariodequixada.com.br\/wp-content\/uploads\/2017\/01\/fumando-maconha-1100-810x442.jpg\")
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Um dos maiores estere\u00f3tipos que emergem em discuss\u00f5es pol\u00edticas ou sociais \u00e9 a imagem do estudante universit\u00e1rio desleixado com a apar\u00eancia, fumador de maconha e militante da esquerda. Youtubers<\/em> de extrema direita atacam ferozmente essa \u201cpersonagem\u201d, enquanto os universit\u00e1rios que se aproximam desse perfil defendem que esse comportamento faz parte naturalmente da fase que est\u00e3o vivendo. J\u00e1 me deparei com muitas caras descrentes diante de minha afirma\u00e7\u00e3o de que nunca fumei maconha, sobretudo porque fiz um curso das Humanas. Ou seja: generaliza\u00e7\u00f5es e preconceitos coincidentes em segmentos ideol\u00f3gicos antag\u00f4nicos.<\/p>\n Nunca fui um jovem a quem pudessem chamar de conservador. Quando adolescente, tive crises religiosas que me fizeram, segundo a vis\u00e3o de alguns, blasfemar, e choquei muitas vezes as pessoas com comportamentos considerados transgressores, mas nunca fumei. Confesso que cheguei a experimentar cigarro uma vez \u2013 Algu\u00e9m nunca? \u2013 e minha curiosidade dissipou-se ali como a fuma\u00e7a que ele produz. Depois disso, nunca mais. Estudei em duas faculdades p\u00fablicas, mantendo amizades com usu\u00e1rios de cigarro de tabaco e de maconha e, nem por isso, aconteceu, uma \u00fanica vez que fosse, de eu faltar \u00e0 aula para fumar enquanto conversava com os amigos, sentado no ch\u00e3o de algum rec\u00f4ndito do campus<\/em>. N\u00e3o porque eu fosse \u201ccareta\u201d ou medroso, mas porque fumar n\u00e3o era algo que me atra\u00edsse. Ali\u00e1s, sinto inc\u00f4modo! Tenho rinite, meu nariz entope com frequ\u00eancia, fico p… quando a fuma\u00e7a de um cigarro entra pelo meu nariz sardento.<\/p>\n Mas, voltando aos preconceitos, gostaria de comentar o que me incomoda. Definitivamente, n\u00e3o \u00e9 a opini\u00e3o dos youtubers<\/em> de direita, pois essa \u00e9 esperada, mas a de alguns universit\u00e1rios, que se irritam quando algu\u00e9m faz generaliza\u00e7\u00f5es sobre comportamentos humanos, \u201cque detestam r\u00f3tulos\u201d e tal, mas fazem as suas generaliza\u00e7\u00f5es quando lhes conv\u00e9m. Acham que todo universit\u00e1rio deve fumar maconha, que esse h\u00e1bito faz tanto parte da vida acad\u00eamica quanto uma produ\u00e7\u00e3o de um artigo cient\u00edfico. Mais: acham que estudantes de certos cursos, como os da \u00e1rea de Humanas, t\u00eam de fumar maconha e se portar de forma pouco convencional. E muitos mesmos acreditam que h\u00e1 cursos com maior n\u00famero de alunos que gostam de Cannabis<\/em> do que em outros, como se o h\u00e1bito fosse decorr\u00eancia do curso.<\/p>\n Nada contra quem fuma maconha \u2013 nem \u00e9 sobre essa pr\u00e1tica que trata este texto \u2013, \u00e9 uma escolha de cada um, contanto que n\u00e3o o fa\u00e7a como press\u00e3o do meio, ou como uma maria-vai-com-as-outras e que n\u00e3o saia pregando que \u201cfaz parte\u201d, porque n\u00e3o faz! Pode fazer parte da vida de cada um em particular, mas n\u00e3o \u00e9 prerrequisito para ser universit\u00e1rio, muito menos para ser um bom universit\u00e1rio. Ainda mais que alunos do ensino m\u00e9dio tamb\u00e9m fumam e p\u00f3s-graduados tamb\u00e9m. Conheci muitos estudantes de gradua\u00e7\u00e3o que sofreram horrores preocupados em dar conta de todas as tarefas do curso e superaram tudo sem p\u00f4r um cigarro de maconha na boca (ou qualquer outra subst\u00e2ncia para \u201cal\u00edvio da press\u00e3o\u201d) e tamb\u00e9m muitos que fumavam demais e mal assistiam \u00e0s aulas. Para boa parte destes, por\u00e9m, o simples fato de voc\u00ea dizer que n\u00e3o fuma, que n\u00e3o \u201ccurte\u201d, j\u00e1 os leva a tach\u00e1-lo de preconceituoso, como se voc\u00ea n\u00e3o pudesse simplesmente n\u00e3o gostar de maconha sem ter preconceito com quem a usa. At\u00e9 escrever um texto sobre esse assunto, para alguns, torna o autor preconceituoso, como fui chamado numa breve postagem que pus no Facebook sobre isso. Se voc\u00ea diz que nunca se encaixou em certo perfil que acreditam ser generalizado, voc\u00ea \u00e9 o \u201csantinho\u201d, o \u201cdiferent\u00e3o\u201d. Ou seja: voc\u00ea recebe r\u00f3tulos dos que dizem detestar r\u00f3tulos. U\u00e9?! E a individualidade t\u00e3o defendida n\u00e3o existe?<\/p>\n H\u00e1 muitas generaliza\u00e7\u00f5es e equ\u00edvocos em torno da rela\u00e7\u00e3o universit\u00e1rio e maconha: al\u00e9m da j\u00e1 comentada de que a erva faz parte da vida de qualquer estudante de n\u00edvel superior, h\u00e1 tamb\u00e9m a de que os fumantes s\u00e3o do curso das Humanas, s\u00e3o comunistas, anarquistas e defendem o PT. S\u00f3 que n\u00e3o!<\/p>\n O que n\u00e3o d\u00e1 para aceitar mesmo \u00e9 ver o pessoal afinado com o discurso antipreconceito, bradando contra os \u201cr\u00f3tulos\u201d e reivindicando respeito desrespeitando quem simplesmente n\u00e3o segue seu estilo de vida porque n\u00e3o quer, porque conscientemente optou por n\u00e3o seguir. Afinal, a vida \u00e9 cheia de vari\u00e1veis (fazendo aqui uma ponte com a linha da Lingu\u00edstica que sigo no meu curso de p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o) e cada uma delas tem sua raz\u00e3o de ser.<\/p>\n