Um ano depois dos crimes que deixaram Quixadá em choque: É necessário repensar a segurança pública!

O sargento Francisco Guanabara Filho, 50, Joel de Oliveira Pinto, 33, e Antônio Lopes Miranda Filho, 33, foram assassinados a tiros em 30 de junho de 2016, em Quixadá.

Uma Juatama sitiada por policiais no início da noite. Hospitais lotados na entrada. Famílias em desespero no quartel do 9° Batalhão da Polícia Militar (BPM). As cenas que nos vêem a mente nos levam a um dia em que, seja pela força da mídia ou pela dor causada em seus entes, os quixadaenses e o Estado jamais vai esquecer. Essa semana faz um ano que o cabo Joel, o soldado Antônio Alves Filho e o sargento Guanabara foram mortos em um confronto com bandidos nas proximidades do distrito de Juatama, em Quixadá. O crime aconteceu no último dia 30 de junho de 2016 e causou uma dor que os quixadaenses e o Estado jamais vão esquecer.

A leva de bandidos que agiu desta maneira se compara a um porte criminoso que já age há cerca de dez anos, provocando atos ainda mais astuciosos, como assaltos a banco e a carro forte. São situações em que, mesmo que queira, a Polícia jamais pode revidar porque não há como sair em vantagem. A data da tragédia nos leva a fazer uma reflexão necessária e a propor um debate sobre a segurança pública: há alguma solução?

Um levantamento da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) do Ceará mostrou que em abril, os crimes de violência letais dobraram em relação ao mesmo período do ano passado. Esta semana, quando um travesti de 25 anos foi morto na região do Cariri, outro dado preocupante revelou que o Ceará registra uma média de quatro crimes sexuais por dia. Somente neste final de semana, na Capital, 19 pessoas foram mortas, de acordo com um levantamento do Laboratório de Direitos Humanos, Cidadania e Ética da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

A segurança pública se tornou um dos maiores problemas a serem tratados. O Estado tem planos, volta e meia reduz índices de criminalidade, é bem verdade. Mas ainda está longe. É uma questão complexa que pode ser provocada por inúmeros fatores, como a educação, o desemprego e, o principal, as drogas.

Algumas iniciativas, embora contraditórias que possam parecer, revelam um resultado intrigante. No Uruguai, por exemplo, em 2012, o então presidente José Mujica sancionou um plano de combate à violência que tornou o Estado o gerenciador da produção e distribuição de maconha. Foi um golpe nos traficantes. Não tinha mais porque haver o tráfico se o próprio estado não só legalizava o uso da maconha como distribuía. Antes disso Mujica chegou a vetar os programas policiais na TV, que escancaravam (como aqui no Brasil em programas como Cidade Alerta, Brasil Urgente e Cidade 190) as ações da polícia. O Ceará e o Brasil como um todo estÕ bem longe dessa realidade. Os planos são meros factóides e as metas ilusórias.

Numa comparação ainda mais aprofundada, qualquer que seja o plano para combater a violência no País, ele será visto como um devaneio. Veja a última edição do Mapa da Violência, por exemplo. O estudo mostrou aquilo que ninguém acreditava: em apenas três semanas de 2015, a violência no Brasil faz mais vítimas do que os crimes de terrorismo contabilizados nos primeiros cinco meses deste ano. No Ceará, em 2014, um cruzamento de dados do Mapa da Violência e a da SSPDS, feito pelo portal Tribuna do Ceará, mostrou que o número de pessoas mortas no Estado em sete anos foi praticamente igual ao número de soldados mortos na guerra do Iraque.

Soma-se a isso a questão justiça. As decisões são, em geral, revoltantes e deixam indignados os cearenses que esbarram na rua com aqueles que, apenas meses atrás, foram os assassinos de um amigo ou mesmo de um familiar. Tive um amigo que viu, cerca de oito meses depois, o assassino do próprio pai solto nas ruas de Banabuiú. Não soube o que dizer a ele. Isso foi em 2009. Fosse então nos dias atuais, seria ainda pior. Qualquer argumento de conforto iria parecer torpe.

A questão é uma só: o que faremos? Diante dos fatos, qualquer argumento se desmorona e se desconstrói. Aquele clichê “salve-se quem puder” parece ser o mais apropriado. O que precisamos mesmo é de uma ação mais ávida do Estado e da justiça e de uma reflexão destes para a situação que vivemos. No futuro não restará nenhuma saudade desta época. É preciso encontrar uma saída. Mas está difícil acreditar e encontrar uma.

José Avelino Neto é jornalista e escreve semanalmente para o Diário de Quixadá

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