Eu também quero ser ladrão!

Estou querendo também ser ladrão! Fico pensando no grande sofrimento que meus pais teriam se aqui estivessem. Quanta tristeza e decepção para a minha filha, meu Deus! E meus amigos que sempre foram tão generosos comigo. Os meus queridos e inesquecíveis ex-alunos ficarão bem tristes, é bem verdade. Que dirão aqueles que  acompanham meu trabalho como radialista e sempre foram tão atenciosos? Mas, perdoem-me, por favor! Quero mesmo roubar, é sério.

Até já arquitetei como farei minha estreia no mundo dos donos do alheio. Começarei roubando a “MALDADE” que existe no coração de muita gente, para que elas sintam como é belo gostar das pessoas, caminhar junto com elas e serem sempre solidárias.

Serei um ladrão cheio de ambições e sem limites para praticar o roubo. Quero ser tão famoso como Jesse James, mas não roubar trens, bancos, carruagens. Estamos no século 21 e pretendo executar  outros delitos.

Queria mesmo roubar do coração de muita gente o “CULTO AO DINHEIRO”. Seria legal se entendessem que o dinheiro é para nos servir e não mandar na gente.

Ficaria imensamente feliz se essas pessoas pudessem ver que há tantas coisas bonitas nesta vida. Quantas coisas belas passam despercebidas por essa gente! O sorriso de uma criança, por exemplo, a sabedoria de uma pessoa idosa, as árvores, gente indo para o trabalho. Como seriam felizes se visitassem as pessoas doentes, fossem solidários com aqueles que estão precisando de ajuda.

Depois de roubá-los, os lembraria  que a verdadeira beleza e felicidade, e até riqueza, vem de dentro das pessoas.

Quero arranjar uma companheira que a chamarei de Clyde e me passarei por Bonnie, formando assim uma dupla de larápios da pesada. E, juntos, realizaremos um assalto que comprovará nossa fama.

Saquearemos a “VAIDADE” tão presente no momento atual. Só assim, esses nossos amigos veriam que a beleza não é só no mundo físico, mas também pode ser sentida nas coisas mais simples da vida.

Se tirarmos do coração esta vaidade excessiva, perceberemos que não somos o melhor e mais importante no trabalho, na escola, e sim resultado do que realizamos juntos.

Veríamos que aquelas pessoas que possuem pouco, na verdade, possuem muito, pois fazem de cada dificuldade um canto para enaltecer a vida.

Quantas vezes  o orgulho leva alguém a situações patéticas, como fingir estar atendendo telefone celular para não falar com um cidadão simples.

Jardins bonitos há muitos, mas só traz alegria o jardim que nasce dentro da gente, falou sabiamente  o mestre Rubem Alves. Estamos esquecendo de viver quando brincamos com o sofrimento dos nossos irmãos ao não estendermos as mãos para prestar-lhe solidariedade. Tal só será possível se afastarmos esta vaidade excessiva.

Para concluir minha entrada no mundo dos amigos do alheio, farei um roubo que chamará a atenção do rádio, da televisão e jornais e de toda a Internet.

Num plano perfeito, tal qual um Al Capone, roubarei do coração de grande parte da humanidade o “INDIVIDUALISMO”. Este sentimento provoca grandes prejuízos à nossa vida. Pessoas que sabemos ser maravilhosas são transformadas por este sentimento mesquinho. Não que a individualidade em si seja um mal, mas sim quando assumimos posições egoístas a ponto de nos sentirmos reis, superiores a todos.

Consagrados escritores, religiosos e até grande número de cientistas afirmam que fazer o bem é, sem sombra de dúvida, a verdadeira felicidade.

Depois de me passar por estes personagens e voltando ao mundo real, talvez até fosse mesmo capaz de realizar um único roubo de verdade: Pegar flores nos mais bonitos jardins da cidade e entregar a cada amigo verdadeiro. Aí sim, nossa maior riqueza.

Amadeu Filho é radialista, memorialista, blogueiro e contribui eventualmente para o Diário de Quixadá. 


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