No Ceará, em geral, o clima de seca já predomina há seis anos consecutivos. E para quem vive da agricultura, as dificuldades geradas pela falta de chuvas impõe um enorme desafio. Mas o município de Banabuiú, no Sertão Central, a situação começou a mudar há cerca de dois anos com a implantação de políticas de convivência com a seca. Neste dia que celebra o Dia do Agrônomo o Diário de Quixadá publica a segunda reportagem da série “A Agricutura que dá certo”.
Em Banabuiú uma das principais estratégias para superar a escassez de chuvas foi a cultura de palma forrageira. O agricultor Raimundo Cícero sabe bem o que é a dificuldade de alimentar o gado quando não tem água. “Eu dizia que se fosse até 2016 a gente até aguentava, mas se tivesse mais um ano de seca, num tinha quem aguentasse (sic). Se não fosse isso aí não tinha dado certo”.
A palma chegou até Raimundo através da Secretaria de Agricultura de Banabuiú em parceria com a Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Ceará (Ematerce). Somente nos últimos 18 meses, o prefeito de Banabuiú, Edinho Nobre, intermediou a aquisição de 100 mil raquetes de palma. “Esse trabalho é muito importante, porque garante que o homem do campo tenha uma perca menor do seu rebanho. Nós temos buscado junto ao Governo do Estado projetos para também garantir uma vida melhor pra essa comunidade”, explica.
Entender a importância da palma forrageira para agricultores em Banabuiú não é difícil. De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em 2018 choveu um total de 638 mm, frente os 734 mm que eram aguardados, uma baixa de 13%. Ainda que apresente um número abaixo da média, o que choveu em Banabuiú foi bem a mais do que os próprios agricultores esperavam. É por isso que as ações são pensadas para o cenário de escassez e de excesso. Na falta de chuva, palma forrageira. Na chuva em larga escala, recuperação de barragens.
“Nós pensamos este trabalho antes mesmo da chegada do inverno. Quem tinha o açude seco teve o terreno limpo, para poder ter uma água de melhor qualidade acumulada. E quando o inverno começou, quando as barragens enchiam demais, as nossas máquinas iam lá trabalhar para reforçar a estrutura”, explicou Edinho Nobre. De acordo com ele, cerca de 30 barragens foram assistidas com o trabalho da prefeitura.
Foi esta ação que em Jurema Velha evitou uma tragédia. Na madrugada de um fim de semana de março a chuva veio mais forte e o açude encheu tanto que a água “lavou por cima da parede”. Tão logo o nível baixou, as máquinas realizaram um trabalho de contenção da barragem, evitando que a estrutura rompesse.
“Essa ação evitou que muitos agricultores de comunidades perdessem os açudes e ficassem sem usar a água acumulada para o gado e para agoar o plantio. Desenvolvemos isso com recursos próprios, sem cobrar um centavo dos agricultores”, declara o secretário de agricultura de Banabuiú, Romário Lima.
Mas em cidades onde a seca predomina e a chuva insiste em cair “de vez em nunca”, ninguém pode se confiar sempre num bom inverno. Por isso que desde 2017 o Município trabalha para reativar adutoras e dessalinizadores que estavam parados. Em algumas localidades, embora fossem de extrema necessidade, as obras estavam estagnadas. Cinco dessalinizadores já estão funcionando, em Jurema Nova, Jurema de Baixo, Laranjeiras, Jiqui e Quiniporó. Juntos, os equipamentos vão beneficiar cerca de 640 famílias.
A política de abastecimento com dessalinizadores se soma ao trabalho de construção de adutoras. A maior delas tem recursos oriundos da Funasa, e Edinho Nobre tem se comprometido a dar mais celeridade ao trabalho de montagem. Quando estiver pronta deve substituir o atual sistema de distribuição de água para toda a cidade de Banabuiú, o mesmo desde o surgimento da cidade, construído pelo Dnocs. Como é velho, o sistema já não supre a atual necessidade, resultando numa constante falta d’água no município.
“Tudo o que nós estamos fazendo é com muita responsabilidade e com compromisso com o povo de Banabuiú. Nós sabemos que o povo dessa cidade sofre com a falta d’água porque aqui nosso inverno é ruim, e o que nós pudermos fazer para ajudar a mudar isso, nós vamos fazer, até o último dia do nosso Governo”, declarou Edinho.
Na próxima semana: na última reportagem da série, descubra como Banabuiú tem se tornado um dos pólos de maior produção de leite do Ceará. Quais as mudanças sentidas pelos agricultores com a reestruturação do trabalho da pasta. Você vai saber mais sobre as ações em prol do meio ambiente como a distribuição de mudas, e vai ver como a construção de estradas na zona rural tem ajudado a vida do homem do campo.